domingo, 17 de julho de 2016 | By: Daíza de Carvalho

Símbolo máximo das Olimpíadas nas mãos de limeirenses

Chama olímpica chega a Limeira na próxima quarta-feira e será conduzida em trajeto de 6 km

Daíza Lacerda

No fim da tarde quente no inverno, ele até tenta se esconder no grande chapéu de palha. Se protege do sol, mas os raios ainda o alcançam e ressaltam as marcas do tempo. Mais do que nas pernas ágeis, no rosto de Fumaça está registrado o acúmulo dos anos dedicados ao esporte. Seja ensinando, seja cuidando da pista de atletismo, como fazia na última semana.
O garoto que há meio século trocou o futebol pela corrida se prepara, aos 74 anos, para o feito que não imaginara registrar em sua carreira: carregar a tocha olímpica. "É um acontecimento mundial. Não esperava chegar numa posição dessa. É como se eu tivesse sido chamado para a seleção brasileira", tenta explicar.
Enquanto faz manutenções na pista da qual é coordenador, Fumaça, como é conhecido José Carlos da Silva, olha para trás e pesa o seu legado. "Batalhei, cuidei, e deixo o que sei para os alunos. Tudo que aprendi tenho que passar para alguém. Gosto de ensinar, é um dom que Deus me deu", conta ele, que está há mais de 40 anos dando aulas e agora escolhe as provas para disputas de corrida entre idosos.
Outra referência de Limeira nas pistas está no auge, mas também se prepara para a emoção inédita de participar do principal símbolo dos Jogos Olímpicos, além das disputas das Paralimpíadas do Rio. Odair Ferreira dos Santos perdeu a visão, mas, correndo, conquistou inúmeros pódios mundo afora. Aos 35 anos, sua jornada olímpica no próprio País começará pela condução da tocha, e continuará nos Jogos Paralímpicos, nos quais vai correr os 5.000 metros e 1.500 metros. "Será uma emoção diferente de todas que já vivenciei até hoje. Corri em várias pistas pelo mundo, e a gente acaba se acostumando. É uma oportunidade que todo atleta sonha, é o símbolo do maior evento esportivo. São só 200 metros, para viver com intensidade".
Ele salienta que competir no quintal de casa é uma motivação a mais, e vê a passagem da tocha como uma oportunidade única para as cidades. "É um símbolo acompanhado no mundo todo, e que deve trazer alegria para a população brasileira, que passa por momentos difíceis. Acredito que o Brasil vai sair dessa, mas os Jogos não têm nada a ver com o momento político que vivemos. Pelo contrário, vai deixar um legado", considera.
SONHOS DE INFÂNCIA
As ruas de Limeira serão caminho para a busca do sonho olímpico nas águas. O nadador Guilherme Guido conduzirá a tocha como responsável pelo 8º melhor tempo do mundo nos 100 metros costas, em competição na qual brigará pela final, no Rio. Para ele, a honra de conduzir a tocha remete às primeiras braçadas, ainda na infância.
"Desde criança, quando comecei na natação, sonhava em participar das Olimpíadas. O sonho se concretizou em 2008, quando me classifiquei para os Jogos de Pequim, mas não tive a oportunidade nem de chegar perto de um símbolo olímpico como esse. Hoje tenho essa oportunidade, que ficará para a minha história, e vou guardá-la com muito carinho. Tanto a lembrança quanto a tocha física, para a qual já separei no meu quarto de medalhas o seu lugar! Carregar a tocha pra mim será mais do que um sonho, significa poder incentivar as crianças de Limeira à prática do esporte, o que tento desde o lançamento do meu campeonato Guilherme Guido no ano passado. Acredito que mais importante do que escrever uma história é deixar o meu legado. Estou realmente muito feliz em poder devolver à cidade de Limeira tudo que me foi fornecido", diz o atleta.
A tocha também será guiada por quem não chegou às disputas profissionais, mas nutriu esse sonho. Aos 35 anos, o assistente administrativo Eduardo Ferreira dos Santos deve iniciar o revezamento, numa chance desejada há pelo menos duas décadas. Ele, que se inscreveu em todos os canais possíveis para participar da condução, teve a história selecionada por um dos patrocinadores. "Em 1996, o Rio era candidato para as Olimpíadas de 2004. Naquele ano, praticava judô, e acompanhei os Jogos pela TV. A modalidade não deu muito certo e parti para o atletismo, tendo em vista chegar às Olimpíadas dali 8 anos. No fim, nem o Rio levou e nem eu, mas continuei praticando corrida. O mais perto que cheguei das Olimpíadas foi com os ingressos para os Jogos, mas queria essa chance de estar mais próximo, em sonho que não atingi como atleta", descreve.
Para ele, o esporte é mágico. "Costumo dizer que infeliz daquele que não sabe o que o esporte proporciona. Pois as várias modalidades são diferentes, mas iguais ao mesmo tempo. Todas elas têm um momento ímpar, o valor de cada segundo, a sensação sublime. Mesmo para um atleta amador a condução da tocha será um momento único, inigualável", define.



Foto: JB Anthero
Fumaça: "É como se eu tivesse sido chamado para a seleção brasileira"

Foto: JB Anthero
Odair: "Será uma emoção diferente de todas que já vivenciei até hoje"



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