domingo, 8 de janeiro de 2017 | By: Daíza de Carvalho

Robinho: falta uma perna, mas sobra disposição


Robinho adotou o lema "o limite é só o começo",
que resume a sua jornada
(Foto: JB Anthero/Gazeta de Limeira)

Limeirense que passou por dois cânceres e uma amputação busca o triathlon paralímpico

Daíza Lacerda

Muita gente começa o ano com o propósito de se movimentar como uma das resoluções. Para Douglas Aparecido Antonio, o Douglas Robinho, de 28 anos, ficar parado não é uma opção. Com uma das pernas amputada há mais de um ano, o rapaz mergulha no esporte como filosofia de vida, sem ter deixado se abater por dois cânceres que o acometeram antes da amputação.
A sua história é conhecida dos gupos de ciclismo de Limeira, já que o limeirense se dedica a pedalar cerca de 60 quilômetros quase todos os dias. Sem prótese. O equipamento, que é alívio de alguns, já significou um peso para quem se redescobriu voando sobre rodas. Isso porque uma prótese interna é que limitava o rapaz, que ganhou as ruas e trilhas quando se viu, finalmente, com uma perna só.
O apelido Robinho remete ao início da adolescência, quando jogava futebol. Com 14 anos, passou pelo Independente, Inter e Guarani. Sem incentivo, a carreira não deslanchou e o jovem deixou o futebol para trabalhar, aos 15 anos.
Foi há 11 anos que ele teve diagnosticado o primeiro câncer, maligno, que atingiu o fêmur e o joelho esquerdos. Seguindo a orientação médica, não amputou, mas recebeu uma prótese interna. Foi quando adotou a natação para recuperação, em esporte que não deixou nunca mais.
A perna era só "para inglês ver", já que a falta de movimentos mais o limitava do que ajudava. "Não conseguia dobrar. Além da musculatura fragilizada, que não respondia aos movimentos, tinha um encurtamento de 9 centímetros. Já era dependente da muleta", conta. Nessa condição ele já participava do projeto de Cicloinclusão, mas só conseguia usar triciclo, bem longe das trilhas. 
MENOS É MAIS
Quatro anos depois do primeiro câncer, foi identificado o segundo. Desta vez, na virilha, também do lado esquerdo. Robinho encarou as quimioterapias, fez tratamento por oito meses no Instituto do Câncer em São Paulo e seguiu a vida. Passada mais de uma década da implantação da prótese, o "corpo estranho" é que começou a dar problema. "Depois de tanto tempo, houve rejeição da prótese, e havia risco da infecção se espalhar. Só aí houve decisão médica pela amputação, que eu já queria desde a primeira intervenção", explica.
Por ter contato com várias pessoas amputadas, ele já colhia informações sobre o que esperar, como possibilidades de infecção e processo de cicatrização e recuperação, o que tornou o processo ainda mais tranquilo. "Foram experiências que me ajudaram também psicologicamente", acrescenta.
Quando pedalava com triciclo, a perna com prótese era como um bebê que tinha que ser protegido de todas as formas. Qualquer batida poderia representar danos muito maiores ou longos tratamentos com medicações, tudo o que ele não queria. Por isso a amputação foi uma porta para a liberdade.
"Ficou muito mais fácil praticar esportes. Comecei a pedalar amarrando o pé no pedal, me equilibrando. Depois fui pegando mais confiança com o firma pé, e fiz trilhas assim por um mês. Tive ganho muito rápido e parti para a sapatilha. Afinal, com um ou dois pés, se tiver que cair, vou cair", diz ele, sobre o calçado que se encaixa no pedal, capaz de provocar tombos bobos até que o ciclista ganhe habilidade em usá-lo.
ALÉM
O início de treino em corrida é com o objetivo de disputar provas de paratriathlon ainda este ano. Só que, em vez de cadeira, ele vai de muletas. Ainda está se acostumando com as dores, mas nem a cadeira e nem a prótese são opções. Como ele sofreu uma desarticulação de quadril, não tem coto, e a prótese específica custa R$ 95 mil. Ele até usa uma no dia a dia, mas a apropriada para o esporte é inviável.
Afastado de seu emprego no comércio há 11 anos, Robinho deve voltar a trabalhar neste ano. Enquanto isso, recebe ajuda de parceiros que viabilizam equipamentos, orientam em treinos e apoiam para os provas, que têm custo de hospedagem, inscrição e transporte. "Minha vida de esportista só é possível com essas parcerias. Quero fazer provas mais longas, mas como amador, para poder relatar as experiências em meu livro", anuncia, sobre material preparado para este ano. Apesar da preparação para o triathlon, mais comum no asfalto, suas primeiras provas devem ser em trilhas.
SEM LIMITES
Ao fazer um balanço de suas experiências e sua condição, Robinho argumenta que "problemas todo mundo têm, a diferença é como cada um encara". Ele prefere viver de forma intensa, se questionar. Adotou como slogan que "o limite é só o começo", que resume a sua jornada. "Toda vez que parecia que algo ia me limitar, eu pude viver de outra forma. Então pergunto: de que forma se quer viver?".
O rapaz de uma perna só é sustentado por um tripé: Deus, família e amigos. "Sem essa base eu não conseguiria atingir nenhum dos meus objetivos". A posição otimista é tão natural que ele às vezes estranha tanta dificuldade que os outros veem e ele não. "É o que tenho, e tento fazer as coisas com prazer".
Robinho pode ser contatado pelo e-mail douglasrobinho7@hotmail.com e pela página do Facebook Douglas Robinho.





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