terça-feira, 3 de janeiro de 2017 | By: Daíza de Carvalho

Releitura - O fim e os acertos

COLUNA RELEITURA 
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O fim e os acertos

Daíza Lacerda

Ainda há quem se pergunte como um prefeito que viabilizou moradia popular, avançou em situações complicadas da assistência social e iniciou obras em vias das mais usadas no município pode perder a eleição. Ao que tudo indica, principalmente o resultado das urnas, Hadich foi traído pelo próprio temperamento, mesmo com os acertos de seu governo, um mérito que não há de se tirar de boa parte de seu secretariado. Dentro do Edifício Prada e, principalmente ao deixá-lo, faltou a humildade demonstrada por muitos de seu primeiro escalão.
Ainda que carisma não signifique gestão, quem vota em quem não lhe causa empatia? E nisso parece ter pesado o Hadich delegado, intrínseco no Hadich prefeito. O ar autoritário não fugiu à percepção popular, fazendo sombra àquilo que deu certo nos quatro anos de governo.
A identificação maior com os subordinados de Hadich foi notória, por exemplo, no sorteio das unidades do Rubi, quando o então secretário da Habitação foi mais ovacionado do que o próprio prefeito. Ainda que capitaneados pelo ex-chefe do Executivo, os ex-secretários lidavam de forma muito próxima dos principais interessados dos serviços de suas pastas, principalmente usando as redes sociais. Uma afinidade que o ex-prefeito não conseguiu criar.
Apesar do amargor do resultado das urnas, Hadich tinha motivos para ser um bom perdedor, já que iniciativas do seu governo chegaram a ser elogiadas e devem ser continuadas por parte do secretariado que sucederá a sua gestão. Além do orgulho, não lhe custava deixar o posto na cerimônia de posse e sair pela porta da frente, como tanto enfatizou que faria.
Toda cidade estará em permanente construção, e Limeira não é diferente. Também não é novidade que é obrigação de qualquer gestor entregar uma cidade melhor do que pegou. Mesmo assim, é justo reconhecer quem se esforçou para que isso de fato acontecesse, e isso foi nítido em algumas áreas como o Ceprosom, com equipes muito afinadas que atenderam moradores de rua e desencantaram o complexo reordenamento de abrigos de crianças e adolescentes; no Urbanismo, foi iniciado quase o milagre de desburocratizar processos, e a própria Habitação, que desenrolou emaranhados como o Recanto dos Pássaros e bairros irregulares, e fez um dos mais objetivos processos para selecionar os futuros moradores do Rubi.
Por outro lado, nem tudo que reluz em seu luxuoso informativo de prestação de contas é ouro. A paz ainda não reina em bairros das periferias mais vulneráveis, principalmente ao tráfico, a manutenção pública é o mínimo que se espera de uma administração, e indicadores de segurança não necessariamente garantem uma sensação geral de segurança. E sempre há de se considerar as subnotificações, pois há gente que já foi tantas vezes alvo de ladrões ou teme represálias, que não registra mais queixas, numa cultura que ainda há muito que ser trabalhada e transformada.
A parceria com a sociedade buscada e citada por Hadich em sua entrevista à Gazeta publicada em 31 de dezembro poderia perfeitamente ter sido iniciada com mais ênfase por ele. Talvez a população tivesse outro olhar se o Executivo usasse peças publicitárias para convidá-la à participação, e não exibir conquistas que, apesar de genuínas, não necessariamente traduzem um sentimento coletivo. Um questionário do usuário de transporte, por exemplo, ficou escondido, quando merecia outdoor e coletiva. O piscinão, com toda a sua importância, todos sabiam da execução. Mas ainda é urgente a mudança de postura em como lidar com o lixo para evitar alagamentos e reduzir os custos com limpeza urbana. Talvez ter se colocado um pouco mais na pele do munícipe, aquele que perde tempo esperando ônibus, que perde tempo na onda vermelha dos semáforos, que faz viagens nos postos para conseguir exames e remédios. Essa distância talvez explique porque os acertos não foram associados a Hadich, ou solenemente ignorados pelo eleitorado.
É claro que as medidas acertadas apontam para evolução, mas não são o suficiente para um sentimento de melhoria geral. Principalmente porque ainda restam calos muito incômodos, como a saúde e o transporte público, muito longes do ideal para o porte de Limeira. Um desafio que agora está nas mãos de Mário Botion e o time escalado por ele.



Publicado na Gazeta de Limeira.

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