terça-feira, 19 de janeiro de 2016 | By: Daíza de Carvalho

A culpa não é da chuva. É nossa!

COLUNA RELEITURA - 19/01/2016

A culpa não é da chuva. É nossa!

Daíza Lacerda

Vamos imaginar o seguinte: e se o dinheiro que municípios, Estados e União gastam com a manutenção dos desastres após as chuvas de verão fossem investidos (de verdade!) em estrutura preventiva durante a estiagem? Quanta de vidas seriam poupadas e tragédias evitadas?
Sim, parece óbvio demais. E é. Mesmo que, exceto por 2014, seja a mesma coisa todo ano, gestores relutam em tratar a questão das chuvas de verão com a urgência que demanda. Felizmente, não é o caso de Limeira, mas, na região, famílias desalojadas amargam o gosto da negligência, principalmente quem vive na beira de rios.
Mas vamos admitir que sobra culpa para todo mundo. Para nós, que somos responsáveis pela estrutura do nosso próprio imóvel e conservação urbana (não adianta reclamar de São Pedro ou da prefeitura se não checou os telhados ou as calhas ou se a boca de lobo entupiu!). E para o poder público, que não pode esperar verba cair do céu para um planejamento urbano à prova de tempestades. Ou resistente a elas.
É preciso lembrar uma coisa básica: nós somos os intrusos, a Mãe Natureza reage a partir da nossa interferência. Não adianta reclamar da seca ou da cheia, passou da hora de saber lidar com elas. Não adianta jogar nas costas do passado o fato das cidades terem sido concebidas sem a estrutura de drenagem ideal. É preciso viabilizar essa estrutura para ontem, antes que o ônus com manutenção chegue a patamares insustentáveis. E isso não é exagero.
Na última semana, vimos buracos nos mais lisos asfaltos. Erosões que nunca imaginaríamos que iriam comer a via pública. Por mais que tenhamos locais "sob controle", a chance de sermos surpreendidos a todo momento é imensa.
É urgente a criação de um fundo para a drenagem. Projetos, temos vários, mas se esperarmos verba do governo federal estaremos reclamando da mesma coisa daqui a 20 anos. Quem trafegou por Limeira nas chuvas da semana passada viu ruas se transformando em cachoeiras. A Lauro Correa convidava a descer surfando. É claro que nada é feito do dia para a noite, mas há locais que não podem esperar a burocracia de um convênio.
A educação também é uma ferramenta urgente. Muita gente aceita morar em locais que são verdadeiras armadilhas, alegando que não consegue pagar aluguel em imóvel melhor. Até a estrutura ruir e ser interditada, como já vimos em outros anos. Que adianta economizar para ter o que comer e não ter onde morar? As pessoas têm de saber como identificar os riscos. Comida não vai faltar, o Banco de Alimentos existe para isso. Mas a ignorância pode comprometer o teto de famílias inteiras. Essa questão poderia ser amenizada num convênio com as faculdades. Há inúmeros futuros engenheiros e arquitetos nas salas de aula que poderiam ajudar a Defesa Civil em diagnósticos dos locais com mais problemas e orientação para as famílias. A informação também pode prevenir tragédias.
Não é uma questão fácil de resolver, mas exige muita vontade e ação de todos. Tanto do cidadão quanto do poder público, que tem de assumir esse rojão e colocar em prática estratégias para começar uma mudança de cultura e de estrutura a longo prazo. Muita coisa custa mais disposição do que dinheiro. Afinal, reclamando ou não, as chuvas sempre virão.



Publicado na Gazeta de Limeira.

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