terça-feira, 10 de novembro de 2015 | By: Daíza de Carvalho

O rock não morreu - e nem a esperança contra o câncer

Antes da abertura das vendas ao público em geral, estavam esgotados os ingressos premium para o show da banda inglesa de heavy metal Iron Maiden, em março de 2016, em São Paulo. Se o Brasil foi destino certo de todas as turnês da última década, a corrida pela área mais privilegiada e cara do show no Allianz Parque talvez se explique pelo susto que a banda e fãs passaram neste ano, quando o vocalista Bruce Dickinson foi diagnosticado com um câncer na língua. A notícia desesperou os fãs do rock, já que restam pouquíssimas bandas da velha guarda em atividade, ainda mais em turnês internacionais. A própria vítima, porém, encarou a fase da forma mais serena possível, algo que deve ser inimaginavelmente difícil para um portador de câncer. Conduta inspiradora, mesmo para os que não gostam do gênero.
Numa entrevista ao Fantástico que foi ao ar em setembro, Bruce, que ainda é piloto de avião e esgrimista, justificou que surtar não o faria sentir-se melhor. A calma vem da experiência nos ares. "Você está num avião e as turbinas pegam fogo. O que você faz? Como reage? Você tenta algo e vê se funciona. Se não, tenta outro plano. Você pode dizer: ‘ai, meu Deus, eu vou morrer’, ou pode dizer: ‘Talvez eu morra, mas talvez não’. Eu sou assim", disse, na entrevista. Dois nódulos, um deles do tamanho de uma bola de golfe, foram descobertos num exame de rotina no final de 2014, e o tratamento seguiu no semestre seguinte, sob sigilo.
A história é exemplo do quanto é crucial o diagnóstico em estágio inicial, que é o grande alerta dos meses de conscientização contra o câncer. Se levada a sério, e cultura dos exames periódicos poderia prover mais finais felizes, como o dos fãs do Iron. No Brasil, infelizmente impera o hábito de esperar a dor para remediá-la, sem a cultura da prevenção. É claro que os nossos sistemas de saúde, (público e particular), não colaboram. Mas não custa checar como as coisas estão quando, aparentemente, não há problemas. Afinal, muitas doenças são silenciosas.
Na era em que temos inúmeras tecnologias ao nosso favor para viver melhor, deixamos de fazer o básico para a boa saúde. Não falo só de exames preventivos, mas da fuga de um estilo de vida que consuma todas as nossas forças e ânimo. É como o médico oncologista Drauzio Varella disse em sua passagem em Limeira: não adianta abrir mão do exercício físico ou descanso pela família, se um ataque cardíaco pode tirar você dela.
Se o câncer devasta vítimas e familiares, a luta faz sobreviventes que se tornam semeadores de esperança e informação. Mas é preciso se esforçar. Principalmente os homens, que em pleno 2015 ainda mantêm reservas para fazer o exame preventivo do câncer de próstata, entre outros. Alguns veículos publicaram que a origem do câncer de Bruce Dickinson teria sido o HPV, contraído via sexo oral, e que o astro teria ressaltado que muitos fazem piada, mas o assunto é muito sério. Saúde custa muito mais do que orgulho.
A longevidade não vem sem um preço ou esforço. Situações à parte são os rockstars Ozzy Osbourne e Keith Richards, que merecem estudo de casos por estarem vivos após tantas décadas de dependência química. Fica o desafio para a ciência... Mas, no mundo dos anônimos, não há efeitos especiais: a prevenção ainda é o segredo para o show continuar.

Publicado na Gazeta de Limeira.

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