terça-feira, 17 de novembro de 2015 | By: Daíza de Carvalho

Enxergar à frente

Limeira não foi salva pelo gongo na questão da água. Foi salva pela visão. Se os limeirenses podem se considerar privilegiados no quesito abastecimento, é por consequência, e não por sorte. É o que mostra o histórico da realidade de Limeira há meio século, na pior seca antes da crise hídrica de 2014.
Cavar o histórico do SAAE na ocasião dos 50 anos da autarquia e as condições da implantação de captação e tratamento de água na cidade trouxe à tona uma Limeira que a nova geração desconhece. Aquela que se mobilizava em prol do coletivo, não só no discurso, mas nas ações. Mais do que isso, o resgate publicado na edição do último domingo na Gazeta retrata um modus operandi urgente agora, para o nosso tempo. O tempo das obras que se arrastam na burocracia. Precisamos para ontem de pessoas que pensem e executem seriamente pensando também no amanhã - e depois, e depois...
Estamos muito ocupados tentando resolver os problemas atuais. Mas os nossos antepassados também estavam, sem deixar de prover para o futuro. É possível que, na era da informação, perdemos a eficiência? Sobram discursos, faltam atos.
O dom de enxergar muito além do seu tempo deveria ser premissa de todo gestor, no âmbito público ou não. Se hoje o que vemos são tentativas, às vezes desesperadas, de remediar problemas novos e complexos, o que será das próximas gerações com o desconhecido (ou nem tanto) que há por vir?
Não é preciso ir longe: a sustentabilidade do nosso modo de vida atual é o desafio da vez, muito mais do que há meio século. Porque essas mudanças não foram consideradas lá atrás. Bastava um "e se...".
Mais de 500 anos deveria ser tempo suficiente para aprender a planejar, não? Não para quem tem a cultura do atraso, com toda mudança (política, social) chegando muito tarde desde a época do império. É como se o Brasil não tivesse aprendido nada com a industrialização, a urbanização, e todos os processos que provocaram uma metamorfose na cultura e modo de vida. Sabemos para onde vamos. Só que ignoramos. Será o futuro que Deus dará ou alguém proverá?
O abastecimento de água e tratamento de esgoto de Limeira são, felizmente, uma das muitas exceções em meio a inúmeras negligências do Estado e País afora. É inconcebível que em pleno 2015 ainda haja lugar sem saneamento básico. Básico! Mas essas carências ainda parecem "normais" no Brasil. Também é inadmissível termos de lidar com o desastre humano e ambiental como o de Minas Gerais. Estarmos sujeitos a consequências daqueles que não fizeram a lição de casa básica de prever e, principalmente, se precaver contra tragédias.
Claro que Limeira ainda sofre com muitas outras demandas comuns à falta de planejamento, a exemplo da mobilidade. A política é outra nos nossos dias, tanto quanto a população. Ainda é grande a passividade diante de problemas urgentes. Muitas cidades brasileiras mostram que foi mais rápido voltar a chover do que viabilizar soluções eficazes.
As cidades sempre serão desafios ambulantes, com dez demandas nascendo quando uma for sanada. Mas o fato de não dar conta não é desculpa. Quem dá a cara a tapa, tem que fazer acontecer. Não adianta olhar para o umbigo. Tem que olhar à frente. Muito à frente.

Publicado na Gazeta de Limeira.

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