terça-feira, 21 de julho de 2015 | By: Daíza de Carvalho


COLUNA RELEITURA - 21/07/2015

A educação que agoniza em meio à discussão dos gêneros


Daíza Lacerda
daiza.lacerda@gazetadelimeira.com.br


E a homossexualidade vai à escola, sem nem ter saído de casa. Já a educação, nem sempre responde chamada. A tal "ideologia de gênero" despertou mobilização no processo de discussão do Plano Municipal de Educação. Mas o silencio deve reinar nas casas, no seio das famílias, no que se refere ao assunto. Afinal, se fosse bem resolvida em casa ou na comunidade, a questão causaria mais argumentos do que gritos. Como pessoas e instituições civilizadas fazem.
Quantas famílias preparam os seus filhos sobre a realidade de que homens também se relacionam com homens e mulheres com mulheres (inclusive explicando se concordam com isso ou não e por que), eu não sei. Mas sei que muitos pais estão preocupados com que seus filhos possuam, antes dos 10 anos de idade, um smartphone e uma conta no WhatsApp e várias redes sociais. E se eles não tiverem "a conversa" em casa, o assunto chegará cedo pela rede, com os mais preconceituosos dos filtros, ou na escola, pelos bochichos. A escola tem responsabilidades? Tem. Mas a educação que deve sair de casa ainda tende equivocadamente a ser terceirizada para educadores. É a vivência da família que dita, pelo menos no início, o caminho - moral e cultural - dos filhos. Menos eletrônicos, mais conversa.
Natural a meta aprovada que prevê esforços contra o preconceito e apoio à diversidade. Mas, na próxima década, que é o prazo do plano discutido, ainda perderemos tempo e energia só para ressaltar o óbvio, de que se deve respeitar o próximo, independentemente de sua opção ou condição? Valor que tem de vir do berço e ser praticado na escola como consequência, sem precisar ser uma meta.
Se esse respeito fosse adotado, imagino que a oportunidade seria muito melhor aproveitada com outras questões mais urgentes do processo educacional. É utópico, eu sei. Mas enquanto as pessoas se dispõem tanto a "lutar" por algo que já deveria ser regra de conduta desde sempre, a agonia da educação em boa parte das salas de aula, pelo menos as públicas estaduais, passa à margem.
Por que ninguém se mobilizou contra o fato de salas de aula parecerem campos de guerra? Ou propôs soluções para os professores que trabalham acuados? Ninguém notou como tantas escolas parecem prisões e conseguem, de fato, fazer com que alunos queiram fugir? Não é um vício enraizado o fato dos relapsos passarem de ano, só para depois o governo ter um número virtual para divulgar na campanha, enquanto, na prática, a educação definha?
Daí, no ensino superior, não há repressão. Só que a comunidade reivindica segurança, enquanto parte dos alunos querem a polícia longe do campus. Afinal, eles também aprontam (o sumiço dos equipamentos de sinalização de trânsito, encontrados em república, virou notícia nacional).
A educação é um problema de pais, de alunos, professores e gestores. O plano seria um primeiro passo para começar, quem sabe, a revolução que a educação realmente precisa. Desde que se faça barulho pelas reais necessidades da porta da escola para dentro.

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