domingo, 25 de maio de 2014 | By: Daíza de Carvalho

Advogado recupera, em Limeira, obra rara de avô escultor

"Galo da sorte" foi esculpido em chifre de boi; peça pode ter ao menos 70 anos de idade

Daíza Lacerda

O advogado Adelson Sampaio, de 53 anos, saiu de Limeira mais feliz do que chegou, na última semana. Ele veio resgatar no município o que considera um tesouro. Colecionador de esculturas feitas pelo avô, Arthur Sampaio, ele viaja o Brasil em busca das peças talhadas artesanalmente em chifres de boi, arte que o antepassado teve como ofício durante 55 anos em Itirapina-SP. O escultor viveu entre 1893 e 1960.
A peça que deixou Sampaio, o neto, eufórico, é um galo, que repousa numa base com um cinzeiro no formato de um coração. "É o galo da sorte. A peça está tão intacta, que não deve precisar de restauração. Consegui resgatar esculturas de galos, mas nenhuma conservada como esta. Mostra que a pessoa que a possuía a admirava, pois não há sinais de uso como cinzeiro", avalia.
A negociação para arrematar a peça foi rápida. Diariamente Sampaio faz buscas na internet caçando as artes do avô, e encontrou o "galo da sorte" num antiquário, em Limeira. E acredita que deve haver mais obras com a mesma origem no município.
O advogado explica o fato de tanta arte estar espalhada. Embora o avô tivesse um ateliê numa avenida de referência de Itirapina, onde foi criado, a venda de suas peças era feita na estação de trem. A licença existia devido à cessão de parte da área da família para o traçado da linha férrea, à época.
Por ter sido criado em fazenda, os animais foram a principal inspiração do escultor. As nuances de pássaros, jacarés, tatus são as mais comuns em sua obra. E o fato de usar chifres de boi para o trabalho não o fazia menos admirador dos animais. "Ele não apoiava a matança. Usava chifres descartados. Muitos donos de animais, quando algum de estimação era morto, procuravam meu avô para transformar os chifres em alguma peça, para recordação".
Sampaio quer recuperar a história do avô, que foi penalizado pela ditadura, como relata. "A ditadura matou também a memória de personagens da arte e cultura. Para mim é gratificante resgatar parte dessa história perdida", diz ele, que já recuperou cerca de 90 peças desde 2006, e deve expô-las numa galeria em Itirapina, onde vive.
Dado o tempo de produção, a estimativa é da existência de milhares de peças. O avô fazia de prendedores de lenços com a face de um boi a berrantes. Mas como saber a autenticidade da autoria da obra? "Ele deixou as suas digitais nos trabalhos, que conseguimos identificar", diz o neto, que não chegou a conhecer o avô, que morreu poucos meses após o nascimento do advogado.
O "galo da sorte" encontrado em Limeira deve ter ao menos 70 anos de idade. O palpite da procedência da peça é que possivelmente o primeiro dono faleceu, e as gerações seguintes não se identificaram com a obra, desfazendo-se dela. Sampaio continua a busca. Ele pode ser contatado pelo telefone (19) 99726-1842 e pelo e-mail conexao757@hotmail.com.
A ditadura manteve-se no encalço da família do escultor que ficou desconhecido, como relata o advogado. O pai foi anistiado político, motivo pelo qual não se dedicou ao resgate que o filho faz agora. "Meu avô dedicou a vida a isso, tendo as espécies e a natureza como inspiração. É uma arte fascinante", finaliza, levando na bagagem mais um pedaço da história que tenta recuperar.

Sampaio, e o "galo da sorte": alegria em encontrar peça intacta em Limeira



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