quarta-feira, 9 de novembro de 2011 | By: Daíza de Carvalho

Dia de Maria


Sabe aquelas semanas bem trash, que começam ruim com cara de que vai terminar pior? Poizé, é nesse barco do Murphy que me encontro. Ou me encontrava, pelo menos.
Achando que uma gripe daquelas era só a cobertura do bolo de encrencas dos últimos dias, tudo o que eu precisava era tomar um chá de cadeira pra dar o toque final no (mau) humor. E não, não estou de TPM.
A jornada começou as 13h30 no teatro, na espera para falar com Maria da Penha. Ela mesma, que deu nome à lei de proteção à mulher vítima de violência. Resumo da ópera: atraso atrás de atraso, a imprensa teve pouco mais de corridos 10 minutos para falar com ela, e o evento em si da qual ela era a mais esperada demorou mais ainda para começar.
Para cumprir o protocolo (encher uma mesa de membros e citar todos os representantes de autoridades e autoridades se pronunciarem fazendo os agradecimentos e politic, ops, considerações sobre a situação em questão, a esperada Maria da Penha começou a falar as 16h num evento que estava marcado para começar as 14h. Agora diga se Limeira não se supera em certos aspectos?
Com munição suficiente para um bombardeio de reclamações em que eu me encontrava, a meia hora de testemunho de Maria da Penha foi o suficiente para me desarmar. Simplesmente não tenho o direito de reclamar da vida, da gripe, do salário, porque sou abençoada por ter tudo isso e muito mais: a paz.
Acho que só quem passa por agressão (verbal, física ou psicólogica) saberá mensurar o que, de fato, deve ser um inferno. Mas o pior é considerar que tais atitudes venham de alguém a quem uniu-se, um dia, por amor. Dizem que o coração tem razões que a própria razão desconhece - de fato. Mas partir um coração pode ser reversível, a longo prazo. Já a tentativa de corromper a dignidade, não.
Ver que os problemas dos outros podem ser infinitamente maiores do que os meus pode não me fazer uma pessoa menos preocupada (ou reclamona). Mas nunca é demais para nos trazer de volta à realidade e dar às coisas o peso que elas de fato têm. Por isso, pelo menos por hoje, não reclamo mais. Nariz pode escorrer, sinusite correr solta e o olho lacrimejar, com o salário óóó e outras cositas mais. Hoje mais uma vez a vida mostrou que poderia ser muito pior. Hoje foi dia de Maria.

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