quinta-feira, 8 de junho de 2017 | By: Daíza de Carvalho

Precisamos da inocência de Diana (uma reflexão sobre o filme da Mulher Maravilha)

Diana: um poço de razão num desvirtuado mundo em guerra 
(Warner Bros. Entertainment/Divulgação)
Você não vai assistir a um blockbuster esperando sair de lá incomodado, pensando na vida. Pois eu diria que este é o principal super poder da Mulher Maravilha.
Se à nossa cultura parece ridículo ver em algo tão banal quanto um relógio aquilo que dita o que temos que fazer, cômico ter a hierarquia profissional relacionada à escravidão e algo corriqueiro em ver pessoas sofrendo e simplesmente ignorá-las, o problema talvez não seja o roteiro, mas vida real.
Infelizmente, perdemos a inocência que transborda na deusa vinda de um mundo sem terceiras intenções, sem cobiça ao poder, mas à justiça. O que você teria a dizer para referenciar o lugar de onde veio? De onde você vem as pessoas lutam ou se acovardam?
Os questionamentos de Diana parecem cômicos, mas a seriedade com que ela os faz, deveria ser levada a sério. Por mais utópico que seja, não deveria ser normal ver o terror se alastrar na sua frente e simplesmente continuar o seu caminho. O problema do mundo é que as exceções viraram regra. E o olhar de Diana não aceita isso. Nós não deveríamos. Mas, enfim, não nascemos em Temiscira. Nascemos condicionados à passividade (entre tantas outras coisas, boas e ruins), e a maioria de nós assim permanece, à espera do despertar por uma heroína, quem sabe.
Mas, a humanidade... dark side/light side. Todos temos. A explicação mitológica até parece fazer sentido, assim como a justificativa do vilão: os homens fizeram a bagunça, e não Deus. Como dar chance ao lado bom? Ser misericordioso ou não com o lado ruim?
Fiquei pensando que os poderes de Diana seriam muito bem-vindos principalmente às mulheres com TPM. Mas teríamos o senso de justiça da heroína para usá-los? Em que ponto deixamos de ser justos para ser vingativos? Essa linha ainda existe, conseguimos enxergá-la? Qual o sentido de atacar? Recuar é perder?
Ao sair da sala, a frustração não foi de não ter cenas pós-créditos. Foi ter escancarado, por uma ficção, o quanto regredimos ao querer evoluir. Que ao perder a inocência, nossos julgamentos ficaram difusos demais. Aderimos a justificativas que quase nunca fazem sentido. E paramos de questionar. A pancadaria mais dolorosa de Diana são as suas perguntas. Para quem se permitir usar o filtro da sua inocência.

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